Alemanha 3x2 Uruguai
sábado, 10 de julho de 2010
Em outro jogo emocionante desta Copa do Mundo, a Alemanha derrotou o Uruguai por 3x2 e repetiu a campanha da Copa de 2006, quando também terminou na terceira colocação. Na realidade, o resultado que os alemães queriam não era esse, mas a vitória diante da valente seleção uruguaia serve para amenizar a dor pela derrota na semifinal contra a Espanha. Do ponto de vista técnico, não dá para avaliar muita coisa na seleção alemã que entrou em campo neste Sábado, afinal a equipe estava cheia de alterações em relação aos outros jogos deste Mundial. Boateng, por exemplo, saiu da esquerda para se tornar o lateral direito, já que Lahm não foi utilizado por causa de uma gripe. Aogo, na lateral esquerda, entrou como titular pela primeira vez, enquanto que Jansen jogou na meia esquerda, setor ocupado por Podolski durante o Mundial. Todos esperavam que Klose pudesse, no mínimo, atingir a marca de Ronaldo como maior artilheiro da história das Copas, mas a lenda da seleção alemã não entrou em campo na partida de hoje, certamente pelos problemas físicos que reclamou durante a semana. Seu lugar foi ocupado por Cacau, que depois o cedeu a Kiessling, que jogou pela primeira vez nessa Copa e perdeu dois gols, um deles de forma incrível. Müller, por outro lado, voltou após cumprir suspensão na semifinal, inclusive marcou um dos gols, o seu quinto nessa Copa. Antes de chegar aos 30 anos, Müller poderá jogar mais duas Copas, quem sabe até outra(s), caso consiga se manter no topo até lá. Isso significa que pode passar o outro Müller (Gerd) e também o Klose, como maior artilheiro alemão em Copas e, quem sabe, até o Ronaldo. Friedrich e Mertesacker, a dupla de zaga titular, foi mantida no time, da mesma forma que a dupla de volantes formada por Khedira e Schweinstenger, além de Özil (de grande futuro). Essa geração da Alemanha, para concluir, deixa um grande legado, palavra tão dinfundida aqui no Brasil. Ao que tudo indica, os alemães estarão no auge em 2014.
O Uruguai, infelizmente, não conseguiu a terceira colocação. Comparando a situação das seleções, ficar na terceira colocação teria um peso muito maior para a “celeste” do que teve para o “natinaleft”. A Alemanha, tão acostumada a grandes conquistas, seja em nível continental ou mundial, sai decepcionada, principalmente por ter goleado três vezes, inclusive seleções tradicionais (e fortes) como Argentina e Inglaterra. Para os uruguaios, por outro lado, essa Copa serviu como um resgate das velhas tradições de uma camisa de peso, mas que já estava esquecida no fundo do baú do futebol. Uruguai, duas vezes medalha de ouro nos Jogos Olímpicos, quando a competição era uma verdadeira Copa do Mundo, quatorze vezes campeão da Copa América e duas vezes Campeão do Mundo. Não é pouca coisa. Desde 1970, porém, o Uruguai não fazia uma campanha digna em Copas. Até por isso, muitos passaram a considerar a equipe como “pequena” no mundo da bola. Tanto é que a celeste não era cotada nem a passar da primeira fase em grupo com França, África do Sul e México. Quem diria, então, que um Uruguai desfalcado estaria na semifinal e fazendo um jogo de igual para igual com a Holanda? Oscar Tabarez é um grande treinador, nessa fase de vacas magras ele parece ser o único capaz de levantar a moral dessa equipe. Era o técnico na final da Copa América de 1989, quando a celeste perdeu para o Brasil, e na Copa de 1990, última vez que os uruguaios haviam passado da primeira fase. Não por acaso, ele voltou e a celeste voltou a aparecer bem. Muitas justificativas são dadas para a campanha, inclusive o caminho tranquilo na fase de mata-mata, quando os uruguaios precisaram superar Coréia do Sul (oitavas) e Gana (quartas). Para os mais exigentes, a mão de Luis Suarez no último minuto da prorrogação, determinante para evitar o gol certo de Gana, foi desleal. Para os mais românticos (como eu), foi mais uma página heróica do futebol uruguaio, da raça desse time. Suarez foi expulso, perdeu a semifinal contra a Holanda e Gana teve um pênalti, que acabou não convertido por Gyan. Assim é o futebol, por isso que é o esporte mais apaixonante do mundo. Na disputa de pênaltis, Muslera se tornou herói, nunca isso será apagado na história do futebol uruguaio, mesmo que o goleiro tenha falhado nos três gols contra a Alemanha na disputa do terceiro lugar, se tornando responsável direto pela derrota. Luis Suarez, para finalizar, foi um dos grandes nomes dessa seleção, tanto pelos gols decisivos que fez, como pela “defesa histórica” contra Gana. Mas o maior de todos é, sem dúvidas, Diego Forlan, mais um imortal para a história dessa seleção. Forlan se sacrificou, percebendo que não havia ligação entre o meio de campo e o ataque, ele mesmo ficou responsável por essa função, em uma cartada de mestre de Oscar Tabarez. Se alguém não entendeu como o treinador podia colocar o seu melhor atacante na armação, certamente admirou a mudança de postura do Uruguai a partir do jogo contra a África do Sul. Mesmo não ficando centralizado, Diego Forlan fez cinco gols, pode até terminar como artilheiro da Copa ao lado de Müller, Sneijder e Villa, caso os dois últimos não façam gols na final de amanhã. A epopéia da Celeste é fantástica na África do Sul, só esperamos que não seja um alarme falso, como foi a Bulgária em 1994, a Croácia em 1998 e a Turquia em 2002. De qualquer forma, a celeste tem tudo para voltar ao Mundial em 2014, afinal serão quatro vagas diretas nas eliminatórias sul-americanas, sem a concorrência do mais tradicional do continente: Brasil. Se ficar em quinto, como ocorreu na última eliminatória, a equipe pode cruzar com Honduras, El Salvador e companhia. O caminho, portanto, está aberto.
Enfim, em noite chuvosa em Port Elizabeth, a impressão é que a Alemanha estava mesmo desmotivada, até pelos várias mudanças em relação ao time que jogou a Copa. A motivação era certa para o lado uruguaio, que não é uma equipe brilhante. Como falei aqui, venceu adversários de menos gabarito em sua valorizada campanha. Contra França, Holanda e a própria Alemanha, a celeste não conseguiu a vitória. No jogo de hoje, a Alemanha dominou as ações no início. Schweinstenger não pode ter liberdade e, mais uma vez, ele ficou totalmente livre para acertar um foguete de fora da área. Muslera rebateu e Müller abriu o placar para os germânicos. Dos pés de “Schweinger”, o cérebro dessa seleção, também saiu o gol uruguaio. O jogador foi desarmado de forma brilhante por Diego Perez, que tocou para Luis Suarez, que deu uma assistência precisa para Cavani marcar o seu primeiro gol nessa Copa e igualar a partida. Depois do empate dos sul-americanos, a Alemanha acusou o golpe e com a forte chuva, acabou dando espaços para os contra-ataques do adversário, sempre através do trio Forlan, Suarez e Cavani (outro jogador de futuro). Suarez, inclusive, perdeu um gol feito no final do primeiro tempo. Arévalo e Diego Perez fizeram aquilo que sabem fazer com maestria: desarmar. Não são jogadores técnicos, não sabem sair para o jogo, mas formam uma grande dupla de volantes, marcam com uma eficiência fora de série. Para premiar a boa Copa do Mundo de ambos, Perez foi o responsável pelo desarme que resultou no gol de empate e Arévalo Rios, de forma surpreendente, por tabelar com Suarez pela direita e fazer uma assistência precisa para o golaço de Forlan, logo no início da etapa final. Diego Forlan pegou de primeira, quase um voleio. Foi um gol de um jogador que marcou seu nome na seleção sul-americana. O Uruguai era melhor, mas a falta de pontaria de Suarez (no jogo de hoje) acabou sendo castigada. Quem diria que Suarez e Muslera, os dois heróis contra Gana, acabariam sendo responsáveis pela derrota? Em cruzamento de Boateng, a bola era de Muslera, mas o inexperiente goleiro saiu muito mal, bateu cabeça com Godin, e Jansen empatou. No jogo contra a Coréia do Sul, nas oitavas, aconteceu a mesma coisa, quando ele acabou batendo cabeça com Lugano. Enfim, contra a Alemanha, Muslera ensaiou duas falhas em cobrança de escanteio, sempre saindo atrasado, em uma delas Friedrich acertou o travessão. Aos 38 do segundo tempo, com o jogo empatado, não saiu de jeito nenhum, Lugano tentou tirar a bola e acabou ajeitando para Khedira fazer de cabeça. Alemanha 3x2 Uruguai. No fim, mais uma drama, quando Forlan acertou o travessão em cobrança de falta. Seria o gol de empate e a esperança de uma vitória na prorrogação. Seria merecido pela importância que o terceiro lugar teria para essa seleção, para o país como um todo. Mas não deu. A comemoração, de forma muito discreta, foi dos alemães, que ficaram com o simbólico bronze. Ano que vem tem Copa América para o Uruguai se firmar entre os grandes e a Alemanha, a partir de Setembro, luta para disputar a próxima Eurocopa em 2012.
Holanda x Espanha
Está chegando a hora. Final de Copa do Mundo é sempre rodeada de expectativa, mas essa (em especial) me causa mais ansiedade. Holanda e Espanha, alguma delas, vai quebrar paradigmas. Somente Uruguai, Brasil, Argentina, Alemanha e Itália venceram uma Copa fora de Casa e isso parecia ser uma regra. É como se camisa ganhasse jogo em Copa do Mundo. Desde criança, sempre escuto: ou Brasil, ou Alemanha, ou Itália, ou Argentina, uma dessas quatro sempre vai estar na final, essa é a regra. Holanda e Espanha mudaram tudo. Fizeram com que esses tabus, muitas vezes difundidos como verdades absolutas, deixasssem de existir na maior competição de futebol do mundo. Ao contrário da Eurocopa, um torneio que gosto muito, o Mundial não tem espaços para zebras. Mas será que a Alemanha em 1954 não era uma zebra contra a Hungria? Cansei de ouvir que a Itália começa mal e depois cresce. Dessa vez, começou mal e terminou pior ainda, algo inacreditável. E o Brasil, cinco vezes campeão do mundo, chegou até longe demais, não tinha time para fazer bonito nem se jogasse em casa. A Holanda, que sempre nos remete ao time de 1974, é regular, não perde há quase dois anos, venceu todos os jogos das eliminatórias e da Copa nesse período. Mas os velhos conceitos não aceitam que a Laranja deixe de ser mecânica para ser cirúrgica. A Itália de 2006, com um time pior que a Holanda atual, foi campeã, mas como se trata de Itália, cuja referência é um forte sistema defensivo, todos admiram. O Brasil foi o único a vencer fora do seu continente, ganhou em 1958 na Europa e em 2002 no Japão/Coréia do Sul. Mais um tabu quebrado, afinal uma seleção europeia vencerá, pela primeira vez, fora de seu continente, logo o continente que os europeus tanto exploraram, buscaram força de trabalho escravo. No país que a Holanda colonizou, com holandeses acusados de serem responsáveis pelo regime do Aphartheid, a Laranja pode se tornar campeã do mundo. A Espanha também está nessa guerra e tudo pode acontecer nessa final inédita e sem um favorito, na minha opinião. Amanhã a bola rola para o jogo mais esperado dos últimos quatro anos. Que o futebol, tão injusto com Holanda e Espanha em outras oportunidades, seja tão bonito como o rico passado dessas duas grandes seleções.
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