Chile
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Após 12 anos ausente, o Chile volta a disputar uma Copa do Mundo em 2010. A geração atual, diga-se de passagem, é excelente e muitos acreditam que pode superar o time de 1998, que chegou às oitavas de final da Copa. Mas o grande sonho dos sul-americanos é repetir (quem sabe melhorar) a campanha de 1962, quando, jogando em casa, a seleção chilena terminou com uma histórica terceira colocação, ao bater a Iugoslávia. São de campanhas como essa que o torcedor chileno se orgulha, afinal a equipe nunca conquistou um título de expressão. Na Copa América, bateu na trave por 4 vezes, ficando com o vice em 1955, 1956, 1979 e 1987. Nos Jogos Olímpicos, o melhor resultado foi um bronze em Sidyney (2000). Recentemente, a seleção sub-20 ficou com o terceiro lugar no mundial da categoria. Foi a partir dessa campanha de 2007 que o futebol renasceu no país, já que desde a época de Zamorano e Marcelo Salas a torcida não se empolgava com a equipe. Em 2010, alguns dos responsáveis pelo excelente resultado no mundial sub-20 vão ter uma missão complicada: voltar a colocar o Chile entre as grandes seleções.
A seleção chilena participou da primeira edição da Copa do Mundo, no longínquo ano de 1930. O time, comandado pelo húngaro Gyorgy Orth, fez sua primeira partida no dia 16.07, contra o México. Saavedra, Arellano, Subiabre, Carlos Vidal e Schoneberg eram alguns dos destaques daquele time, que passou fácil pelos mexicanos, com vitória por 3x0 (dois gols de Vidal e um “gol contra” de Rosas). Três dias depois, os chilenos derrotaram a França por 1x0, em jogo muito complicado. Subiabre foi o herói da vitória dos sul-americanos. Pelo regulamento, apenas a seleção que terminasse no primeiro lugar do grupo se classificaria. Como a Argentina também havia vencido mexicanos e franceses, o jogo entre os chilenos e os “hermanos” se tornou uma verdadeira decisão. Sobrou para “la roja”, que não conseguiu marcar o artilheiro da Copa, justamente o argentino Stábile que fez 2x0 em menos de 14 minutos de bola rolando. Arellano ainda descontou para o Chile, mas na segunda etapa Mario Evaristo deu números finais ao jogo, definindo a classificação da Argentina para a fase seguinte. Com a melhor campanha entre os eliminados, o Chile terminou a Copa de 1930 na quinta colocação.
O Chile voltou a disputar uma Copa do Mundo em 1950, no Brasil. Em complicado grupo com Espanha e Inglaterra, a equipe caiu ainda na primeira fase. O goleiro e capitão Sergio Livingstone (conhecido como sapo) era o líder daquele time. Nos dois primeiros jogos, os sul-americanos perderam para Inglaterra e Espanha (ambos por 2x0) no Maracanã. Por isso, nem a goleada por 5x2 sobre os EUA na Ilha do Retiro foi capaz de mudar a história do time na Copa. Depois disso, o Chile conquistou o segundo lugar no campeonato pan americano de futebol (1952) e em duas edições da Copa América (1955 e 1956). Enrique Hormazábal era um dos destaques da equipe, na época. Seleção chilena, que disputou a Copa do Mundo de 1930.
"Batalha de Santiago!" Essa foi a melhor denominação para um jogo violento e defensivo entre Chile x Itália, marcado por muitas polêmicas extra-campo. "La Roja" venceu por 2x0 e deixou o tradicional adversário pelo caminho!
Jorge Toro, no fim do primeiro tempo, marca um bonito gol e desconta para o Chile, que perdia o jogo por 2x0. Mas a seleção canarinho, como sempre, atrapalhou os planos dos andinos e terminou a partida com vitória por 4x2.
A melhor campanha de todos os tempos! Rojas vence o goleiro iugoslavo e marca o gol da vitória do Chile, na disputa de terceiro lugar da Copa de 1962.
Escolhido como sede da Copa do Mundo de 1962, o objetivo do Chile era não fazer feio em casa. Com o sorteio colocando Alemanha Ocidental, Itália e Suíça no grupo dos anfitriões, a expectativa geral é de que os chilenos se esforçassem apenas para não ser o saco de pancadas do grupo. Mas, liderados pela seriedade do técnico Fernando Riera e pelo brilhantismo do ídolo Leonel Sanchez, os sul-americanos derrubaram as previsões e conseguiram eliminar os europeus. No primeiro jogo, vitória de virada por 3x1 sobre a Suíça, com dois gols de Sanchez e outro de Ramirez para os chilenos. Na partida seguinte, conhecida como a “batalha de Santiago”, a seleção chilena derrotou a poderosa Itália por 2x0, com um público de 66.057 pessoas no Estádio Nacional. Vale destacar a rivalidade entre as duas seleções! Em 1960, um terremoto devastou o Chile e preocupou os organizadores da Copa do Mundo. Enquanto os sul-americanos lutavam para mostrar que tinham condições de sediar o torneio, os jornais italianos difamavam o país. Em uma matéria, do jornal “Resto del Carlino”, a cidade de Santiago era classificada como o fim do mundo, formada basicamente por prostituição, pobreza, analfabetismo, alcoolismo, desnutrição, entre outras coisas. Naturalmente, os chilenos ficaram perplexos com o jornal e a partida contra a “azurra” se tornou de alto risco. Com esse clima de hostilidade, o jogo foi uma verdadeira batalha. Com sete minutos de bola rolando, o italiano Giorgio Ferrini fez falta dura em Leonel Sanchez e foi expulso. Como consequência, uma briga generalizada entre os jogadores. A partida recomeçou alguns minutos depois, com os atletas bastante nervosos. Aos 41 minutos, outra confusão, quando o chileno Leonel Sanchez suspostamente teria dado uma cotovelada no italiano Mario David. O juíz, porém, não viu o lance e deu continuidade ao jogo. Instantes depois, David resolveu se “vingar” e foi expulso após entrada dura em Sanchez. Na segunda etapa, o Chile marcou duas vezes, com Ramirez e Toro. Com a vitória, os chilenos jogaram pelo empate com a Alemanha Ocidental para ficarem na primeira colocação do grupo. A vantagem, no entanto, não foi aproveitada e os sul-americanos foram derrotados por 2x0. O placar classificou “la roja” na segunda colocação da chave, causando um temido confronto contra a URSS nas quartas de final.
O jogo contra os soviéticos (campeões da Eurocopa dois anos antes) aconteceu em Arica. A partida, como era de se esperar, foi bastante disputada. Aos 10 minutos de jogo, Leonel Sanchez venceu o lendário goleiro Lev Yashin e abriu o placar para os chilenos. Aos 27 minutos do segundo tempo, Chislenko empatou o jogo. Mas o gol da vitória dos donos da casa aconteceu em seguida, com Rojas. Depois de passar por suíços e italianos, o Chile mandava a poderosa URSS para casa. O resultado criou grande confiança no povo chileno, que acreditava piamente no título da Copa. A imprensa do país andino, por exemplo, já anunciava como os anfitriões comemoriam a classificação para a final: tomando um autêntico café brasileiro. Bom, como você já notou, o confronto da semifinal era contra a seleção canarinho, campeã do mundo em 1958. O que os chilenos não esperavam é que Garrincha fosse desequilibrar o jogo a favor do Brasil. O “anjo das pernas tortas” marcou duas vezes e deixou os visitantes com boa vantagem. Toro, aos 42, descontou para os andinos e aumentou a tensão para o segundo tempo. Logo aos 2 minutos, Vavá fez 3x1. Leonel Sanchez, de pênalti, colocou novamente o Chile na disputa, aos 16 minutos. O golpe final do Brasil aconteceu aos 33 da segunda etapa, quando Garrincha cruzou para Vavá marcar o quarto gol. Na disputa do terceiro lugar, 67.000 pessoas compareceram ao estádio Nacional para acompanhar a vitória por 1x0 sobre a Iugoslávia. O gol foi marcado por Rojas, já nos acréscimos. Certamente, um prêmio de consolação! A campanha em casa, é preciso enfatizar, foi histórica e os chilenos ainda aguardam por um time capaz de repetir o feito.
É melhor esquecer a campanha do Chile na Copa seguinte. Jogando contra URSS, Coréia do Norte e Itália, os sul-americanos somaram apenas 1 ponto (empate contra os norte-coreanos). Ausente da Copa de 70, os chilenos voltaram a disputar uma Copa do Mundo em 74. Mas para isso precisaram superar o Peru (que tinha um excelente time na época) para conseguirem chegar a repescagem contra a URSS, representante da Uefa. No primeiro jogo, em Moscou, a zaga chilena formada por Elias Figueroa e Alberto Quintana fez uma partida incrível e conseguiu segurar os europeus. Bom, um golpe de estado no dia 11.09.1973 derrubou o presidente Salvador Allende e o Chile passou a ser governado por uma ditadura de extrema direita. A URSS, como sabemos, tinha um regime de esquerda: o comunismo. Os soviéticos, então, se recusaram a viajar para um país dominado por militares, onde as maiores covardias eram feitas com os comunistas. Nada mais justo! A Fifa não transferiu o jogo para um campo neutro e classificou os andinos para a Copa, onde os chilenos enfrentariam Alemanha Ocidental, Alemanha Oriental e Austrália na primeira fase. No primeiro jogo, “la roja” perdeu para a dona da festa: a Alemanha Ocidental. A derrota deu contornos de dramaticidade ao confronto seguinte, contra a Alemanha Oriental. Além da eficiente dupla de zaga, o Chile tinha jogadores de destaque como Ahumada, Arias, Carlos Caszely e Guillermo Paez. Nem com esse “grande time”, como consideravam muitos especialistas na época, o Chile conseguiu a vaga para a fase seguinte. Contra a Alemanha Oriental empate por 1x1, com o gol dos sul-americanos sendo marcado por Ahumada. Na partida seguinte, empate sem gols com a Austrália, resultado que deixou o time com apenas dois pontos. Depois de um vice-campeonato na Copa América de 1979, os chilenos voltaram a disputar o Mundial em 1982. O resultado, no entanto, foi decepcionante com três derrotas em três jogos. A reação demorou na Copa de 82! Depois de perder para Áustria e Alemanha Ocidental, o Chile chegou ao jogo contra a Argélia eliminado. Os africanos abriram 3x0 no primeiro tempo! Neira e Letelier (na imagem após marcar o segundo gol) tentaram diminuir o vexame, mas não deu. Somente Nova Zelândia e El Salvador (que tomaram goleadas históricas) fizeram campanha pior.
Em 1987, os andinos fizeram uma ótima campanha na Copa América. De marcante, a goleada de 4x0 pra cima do Brasil, com Basey e Letelier fazendo dois gols, cada um. Na semifinal, um emocionante confronto contra a ascendente seleção colombiana. Após 0x0 em 90 minutos de jogo, os chilenos decidiram a parada na prorrogação, com vitória de virada por 2x1. Na decisão, porém, “la roja” bateu na trave ao perder por 1x0 para o Uruguai, ficando, outra vez, com o vice-campeonato da competição. Em 1989, a oportunidade de voltar a disputar uma Copa do Mundo foi por água abaixo, graças a uma besteira do goleiro Roberto Rojas. Brasil e Chile jogavam no Maracanã, para um público de 141.000 torcedores. Para os chilenos, somente a vitória interessava, já que um empate classificaria o Brasil para o Mundial. Depois de muita pressão no primeiro tempo, a seleção canarinho abriu o placar aos 4 da segunda etapa, com Careca. Aos 24 minutos, uma torcedora que estava atrás do gol defendido pelo goleiro Rojas, atirou um sinalizador no campo de jogo. Percebendo a possibilidade de, quem sabe, complicar a vida da seleção brasileira, Rojas se atirou no gramado e fingiu ter sido atingido. O chileno, então, se cortou com uma lâmina que havia levado para o gramado. Com o uniforme sujo de sangue, o goleiro foi retirado de campo pelos companheiros, que se recusaram a voltar ao jogo. No dia seguinte, o jornal “O Globo” mostrou uma fotografia que provava que o sinalizador havia caído longe de Rojas. A Fifa investigou o caso e constatou, alguns dias depois, que tudo não passava de um teatro do goleiro chileno. A fraude custou caro, já que Rojas, o técnico Orlando Aravena, o dirigente Sergio Stopell e o médico Daniel Rodrigues foram banidos do futebol. Além disso, o zagueiro Astengo pegou quatro anos de suspensão. A seleção chilena, da mesma forma, foi eliminada da Copa de 1990 e também impedida de disputar as eliminatórias para a Copa do Mundo de 1994. O ex-goleiro admitiu, tempos depois, que tudo não passava de um plano para conseguir anular o jogo e levar a decisão para um campo neutro. Não deu certo! Em 2000, Rojas foi perdoado pela Fifa, após demonstrar arrependimento.A maior dupla de ataque da história no futebol chileno! Salas e Zamorano comemoram gol contra a Itália, pela Copa de 1998. Se a defesa fosse um pouco melhor, esse time poderia ter chegado mais longe na França.
O Chile de 1998. Em pé: Margas, Fuentes, Reyes, Parraguez, Acuna e Tapia. Agachados: Estay, Villarroel, Zamorano, Rojas e Salas.
Seleção do Chile, sensação nos Jogos Olímpicos de 2000. Em pé: Reyes, Alvarez, Olarra, Nunez, Maldonado e Tapia. Agachados: Contreras, Navia, Zamorano, Pizarro e Ormazabal.
Marcelo Salas e Ivan Zamorano são dois nomes que, eternamente, serão lembrados quando falamos de futebol chileno. O ápice da dupla aconteceu em 1998, com a classificação para a Copa do Mundo. O grande problema é que o restante da equipe não ajudava e, por isso, “la roja” não conseguiu um destaque maior. Na Copa, o Chile enfrentou Itália, Áustria e Camarões na primeira fase. O jogo contra os italianos é o mais lembrado, afinal foi uma partida cheia de alternativas em Bordeaux. Vieri abriu o placar para a “azurra” aos 10 minutos, mas com dois gols de Salas, o Chile virou o placar. Somente aos 40 minutos do segundo tempo que a Itália conseguiu o empate, após pênalti cobrado por Baggio. Os chilenos empataram os dois jogos seguintes, contra Áustria e Camarões e, mesmo sem vencer nenhum jogo, se garantiram na segunda colocação da chave. Nas oitavas de final, porém, o encontro com o algoz de 1962 foi fatal. O Brasil goleou o Chile por 4x1 deixando, outra vez, os chilenos pelo caminho. Salas, que marcou o gol de honra contra os brasileiros, fez 4 gols na Copa e terminou como o artilheiro do time. Dois anos depois, “la roja” conseguiu seu melhor desempenho em Jogos Olímpicos, ficando com o bronze em Sydney. Com o reforço do experiente Zamorano, os sul-americanos fizeram 4x1 no Marrocos e 3x1 na Espanha, perdendo apenas o último jogo para a Coréia do Sul na primeira fase. Nas quartas de final, outro show ao golear a Nigéria por 4x1. Os chilenos, como sempre, bateram na trave ao perderem a semifinal para Camarões, que seria ouro no torneio. Na disputa do bronze, a vitória por 2x0 contra os Eua serviu como prêmio de consolação. Depois disso, porém, o futebol se enfraqueceu no país e a seleção foi figurante nas eliminatórias para as Copas de 2002 e 2006. Em 2007 a história começou a mudar, com o bronze no mundial sub-20. Jogadores como Mauricio Isla, Gary Medel, Arturo Vidal, Carlos Carmona e Alexis Sanchez (frequentemente convocados por Bielsa) fizeram parte daquele time. Bom, o argentino “El Loco Bielsa” foi contratado para dirigir o Chile em 2007. Depois disso, os andinos se estruturaram e conseguiram vaga para a Copa de 2010 com certa tranquilidade. A mescla de jovens talentos (como os citados acima) com jogadores de qualidade inquestionável (como o atacante Humberto Suazo) faz “la roja” ser cotada até como possível candidata ao título. Se isso é exagero, eu não sei. Mas de uma coisa tenho certeza: com Bielsa no comando, o Chile vai sempre jogar pra frente e fazer belas partidas, seja quem for o adversário.
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