Alemanha 4x0 Argentina; Espanha 1x0 Paraguai.
sábado, 3 de julho de 2010
Argentina 0x4 Alemanha
Um jogo de gente grande, em campo duas das principais potências do futebol mundial. A Argentina, de Maradona, entrou nessa Copa do Mundo com o sonho de ver Messi carregar o time nas costas, como o pibe fez em 1986. Vamos ser justos. Quando uma grande seleção perde, é muito fácil criticar o ídolo, que nem sempre corresponde as nossas expectativas. Messi fez uma boa Copa do Mundo, mesmo não tendo feito nenhum golzinho. Contra Nigéria, Coréia do Sul, Grécia e México, o melhor do mundo buscou o jogo o tempo todo, fez boas jogadas individuais, assistências precisas, chutou na trave, foi impedido de marcar o seu gol por atuações “espíritas” de goleiros medíocres. Na partida de hoje, foi bem marcado, como foi em outras oportunidades. Mesmo assim, tentou, até fez boas jogadas, mas não deu. Estava escrito. Era dia da Alemanha. Desde as eliminatórias, todos nós que acompanhamos futebol percebemos o quanto o setor defensivo da Argentina é fraco, tanto é que foi facilmente envolvido pela seleção brasileira em Setembro do ano passado. Maradona, é verdade, errou ao não convocar o experiente Zanetti e Cambiasso, que foram campeões da Uefa Champions League pela Internazionale. O pibe, por outro lado, tem seus motivos: acreditou no ataque. Convocou, portanto, vários jogadores com características ofensivas, ao ponto de improvisar o meia Jonas Gutierrez na lateral direita no início da Copa. Percebeu o erro a tempo e colocou o zagueiro Otamendi nos jogos decisivos. Mas não adiantou nada. Justamente pelo lado mais fraco da albiceleste que a Alemanha encontrou seus quatro gols na partida deste Sábado. Tão encantada, a carruagem alegre da ofensiva Argentina, virou abóbora. Todos nós imaginávamos, mesmo que não quiséssemos acreditar nisso, que o feitiço tinha hora para acabar: quando a Argentina enfrentasse um gigante do futebol mundial.
Uma bonita tarde de Sábado, na Cidade do Cabo, no estádio Green Point. Cenário perfeito para a tragédia argentina e para a consagração germânica. Não tem como não se encantar com um time que faz 4x0 na Austrália, 4x1 na Inglaterra e agora 4x0 na Argentina. Ninguém poderia imaginar. Mas a Alemanha, que tantas vezes chegou entre os quatro melhores de uma Copa do Mundo, nunca pode ser considerada uma surpresa. Eu confesso que coloquei a Alemanha na minha lista de times que podem chegar pelo peso da camisa, mas jamais cotei a equipe pelo bom futebol. Aliás, é preciso enfatizar que ela não apareceu com tanta propriedade nas eliminatórias. Joachim Löw só encontrou a receita pouco antes da Copa do Mundo, com a contusão de Ballack. Não, eu não estou naquela injusta turma que diz que Michael Ballack é horrível, que sua saída contribuiu para a melhora do time. Minha opinião é que o time estava montado, com o Ballack recuado ao lado de Rolfes (que também não foi ao Mundial por contusão) e com Schweinstenger na armação ao lado de Özil. As saídas de Ballack e Rolfes promoveram uma mudança radical. Schweinger foi recuado para ser o “cérebro”, o volante que sabe sair para o jogo. Khedira, garoto que venceu a Euro sub-21 no ano passado, ganhou espaço e agarrou sua oportunidade para ser titular no time. No meio continuou Özil, com a entrada de Trochowski. Vieram os famosos amistosos pré-Copa, que para a Alemanha serviram muito. Percebendo que Podolski funciona mais quando cai pelo flanco esquerdo, Löw tem uma ideia de gênio, ousada para a característica de uma equipe que sempre prezou pela marcação: jogar com pontas abertos. Olhou então para o elenco e viu Kroos, Marin e Müller, três jovens promessas que poderiam ser o ponta direito. Löw testou nos amistosos e chegou a conclusão que Müller jogaria mais aberto, com Özil centralizado, mas sempre revezando posição com Müller. Podolski deixava de ser o segundo atacante para se tornar um ponta quando o time ataca e um meia quando o time se fecha para sair no contra-ataque. Uma aula para o Dunga. A Alemanha passa, a partir daí, usar um contra-ataque quase que mortal, através da velocidade de seu meio de campo, formado por Schweinstenger, Khedira, Özil, Müller e Podolski. Na frente, o sempre oportunista e esforçado Klose, que está quase entrando para a história das Copas como o maior goleador de todos os tempos.
Enquanto Löw planejava em seu laboratório secreto, Maradona (sempre muito romântico) motivava seus jogadores. A Argentina, muito segura de si, é um time que vai pra cima e dá espaços para os contra-ataques: o estilo que a Alemanha adora. Era um jogo de xadrez, claramente favorável aos alemães, que se fecham bem. Schweinstenger, um verdadeiro cérebro da seleção europeia, comandou o meio de campo, muitas vezes sem marcação. Maradona, por mais que eu tenha admiração pelo estilo ofensivo de sua equipe, errou ao não escalar um segundo volante, aquele que contribuiria com Mascherano na marcação: Cambiasso. Pois é. Higuain, Tevez, Messi, Di Maria e Maxi Pereira, todos se esforçando muito, mostrando suas qualidades, mas eis que a Argentina é facilmente dominada no jogo. Toma um gol bobo no início, quando Müller manda de cabeça após cobrança de falta, lance caracterizado por falhas de Otamendi e do goleiro Romero. Na etapa final, os hermanos foram em busca do resultado, mas não conseguiam furar a bem armada (e segura) defesa alemã. Nos contra-ataques, sempre pelo lado de Otamendi, a Alemanha matou o jogo. Primeiro com Klose, que recebeu passe açucarado de Podolski, em lance que Müller provou o quanto é um jogador de talento, ao passar a bola, mesmo sentado. No terceiro, Schweinger fez jogada individual espetacular, fazendo fila na defesa e dando o toque para trás, para conclusão do zagueiro Friedrich. O quarto gol, também pelo lado esquerdo, surgiu após um passe (encobrindo os zagueiros) de Özil para Klose, que completou, de primeira, para o fundo das redes. É o gol de número 14 do artilheiro Klose, que já alcança Gerd Müller como maior artilheiro alemão na história dos Mundiais. A Alemanha passou, encantou, mas ainda não ganhou. Acho que o oba-oba é justificável, mas pode aconter com essa equipe a mesma coisa que aconteceu com a Argentina, que era a queridinha da Copa. Os germânicos já perderam para a Sérvia nessa Copa e mostraram que não são “imbatíveis”. Na semifinal, enfrentam a Espanha, que ao contrário da Argentina, tem uma defesa bem postada, que conhece a característica dos adversários. A “fúria” também toca muito bem a bola, tem paciência suficiente para esperar o melhor momento para fazer o gol e dificilmente se arrisca. Gosto muito das três seleções europeias que estão na semifinal, são equipes que tem tradição e sabem jogar o futebol bem jogado. Claro que me simpatizo com o Uruguai, mas ele só está lá pelo caminho fácil que pegou, contra Gana e Coréia do Sul. Acho que seria utopia imaginá-los brigando pelo título, apesar de serem campeões do mundo por duas vezes. Vai dar Europa, outra vez. A Alemanha é, pela tradição e pelo futebol que apresentou até agora, a favorita, mas Espanha e Holanda já perceberam que passou de hora de ganhar uma Copa. Serão jogos inesquecíveis nessa reta final.
Paraguai 0x1 Espanha
A Espanha, mais uma vez, não conseguiu apresentar um grande futebol, mas venceu o Paraguai e já fez história, afinal chega entre os quatro melhores de uma Copa do Mundo após 60 anos. As chances de superar sua melhor campanha, um quarto lugar em 1950, são reais, afinal a “fúria” tem um time equilibrado e coeso, que pode, perfeitamente, derrotar a Alemanha. Não será tarefa fácil, assim como não foi na final da última Eurocopa, mas os espanhóis não têm uma defesa tão fraca como a da Argentina e nem um time com tantos problemas de bastidores como a Inglaterra. Por outro lado, a “fúria” somou só seis gols em cinco jogos, o que é preocupante para um time que chegou tão rodeado de expectativa. Villa é o cara, fez cinco gols (com o de hoje) e está na artilharia da Copa. A minha impressão é que a equipe está com azar, perdendo muitos gols bobos. O próprio Villa perdeu um pênalti na primeira fase, em jogo contra Honduras. Enfim, a seleção espanhola chegou e será difícil segurá-la nessa mini Eurocopa que virou a fase final do Mundial, já que o vencedor desse confronto europeu entre Espanha e Alemanha enfrentará, provavelmente, a Holanda na final. Em mais um jogo, diga-se de passagem, sem favorito.
Gerardo Martino, técnico paraguaio, foi inteligente ao trocar meio time. A sua seleção, apesar de ter feito história ao chegar nessa fase do Mundial, empatou por 0x0 com Nova Zelândia e Japão, em suas duas últimas apresentações. Tirar Carlos Bonet e colocar Dario Veron foi uma cartada de mestre, em um jogo que se definiria nos detalhes. A exclusão do trio de ataque, para a aparição de mais um homem no meio de campo, foi outra grande ideia para dificultar o toque de bola espanhol. Com Vera sacado, o time entrou com Victor Caceres, Jonathan Santana, Riveros e Edgar Barreto, quatro jogadores de meio de campo para reforçarem a marcação. Cardozo e Haedo Valdez, mais isolados no ataque, até que assustaram no primeiro tempo, principalmente o segundo. Aliás, a arbitragem atrapalhou o espetáculo, quando Barreto cruzou da direta e Valdez (em posição legal) recebeu dentro da área e marcou o gol, aos 40 minutos. O juiz da partida “interpretou” que Cardozo participou do lance, estando em impedimento. Paraguai prejudicado e a Espanha, que tantas vezes sofreu na mão de juízes, saiu no lucro. Na etapa inicial, é preciso destacar, o Paraguai foi melhor. Exercendo marcação sob pressão, com o primeiro combate começando pelos jogadores de ataque, os paraguaios encurtaram os espaços para a fúria. Até Casillas se assustou quando recebeu o passe e se deu conta que Valdez já estava em cima dele, fazendo a marcação. Uma disciplina tática louvável, que comprova o quanto esse time paraguaio teria mesmo capacidade de fazer a Espanha voltar a ter o apelido de amarelona. Na etapa final, inclusive, a chance de ouro aconteceu quando Pique, inexplicavelmente, segurou o braço de Cardozo, impedindo que o atacante chegasse na bola em cobrança de escanteio. Pênalti bem marcado, mas mal cobrado por Oscar Cardozo, que facilitou a vida de Casillas. O jogo, nesse momento, mudava de cara. Para os paraguaios, um divisor de águas. Não é por acaso que Cardozo estava inconsolável ao fim da partida. Isso é Copa meu amigo.
A Espanha não teve ainda um grande teste. Não considero que a seleção portuguesa seja de primeiro nível, como Holanda ou Brasil. Por isso, acredito que só veremos do que esse time espanhol é capaz na semifinal contra a Alemanha. Pegou Honduras e Chile, times mais abertos, e jogou bem. Também fez boas partidas contra os ferrolhos da Suíça e de Portugal, apesar de ter perdido para os suíços. A diferença, dessa vez, é que o Paraguai não montou o ferrolho que se esperava, não aquele que se prende no campo de defesa e espera o adversário. A marcação, a vontade de tomar a bola ainda no campo de defesa da fúria, incomodou os europeus. Só se acostumaram com a situação do jogo, quando o adversário se desequilibrou emocionalmento, no momento que Cardozo perdeu o pênalti. Villa, sempre ele, foi pra cima de Alcaraz e achou um pênalti, no lance seguinte. Que jogo! Villa, ao contrário do jogo contra Honduras, não cobrou. Xabi Alonso foi para a cobrança e fez. Alegando invasão, o árbitro manda voltar. Xabi Alonso troca o canto, mas Villar defende, dá rebote, Fábregas chega para conclusão e Villar o derruba. Outro pênalti, mas não marcado pelo juiz da Guatemala. No lance que Cardozo perdeu para o Paraguai, também houve invasão dos espanhóis e, se a regra é a mesma, o lance deveria ter sido repetido. É isso. Dos dois lados, motivos de muitas reclamações. A FIFA insiste com árbitros do Uzbequistão, Japão, Guatemala e companhia para jogos de mata mata e dá nisso. A Espanha, de futebol tão bonito, demorou a crescer e só melhorou mesmo a partir da entrada de Pedro no lugar de Xabi Alonso. Fábregas, a esta altura, já havia entrado no lugar do inoperante Fernando Torres, que tem a justificativa que está voltando de lesão, portanto sem ritmo de jogo. Com Xavi, Iniesta, Pedro e Fábregas formando uma linha de quatro, a vida de Villa facilitaria muito. A jabulani, é verdade, insistiu para não entrar, quando Iniesta fez linda jogada individual (como sempre), encontrou Pedro, que chutou, a bola bateu na trave e sobrou para Villa que se ajeitou e mandou bem, com a bola batendo nas duas traves antes de morrer no fundo do gol. Já no finalzinho do jogo, a fúria parecia quebrar a maldição das quartas de final. É bem verdade que tomou um susto da dupla Barrios e Santa Cruz (que entraram no segundo tempo) e deu um susto com Villa. Mais uma partida épica termina e a Copa de 2010, apesar da média de gols ser baixa, é mais emocionante que as Copas de 2002 e 2006, na minha opinião.
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