Falando de Geografia.

Depois de 56 partidas e 24 seleções eliminadas, a Copa do Mundo prossegue amanhã com a fase de quartas de final. Claro que alguns jogos foram memoráveis, como a goleada da Alemanha sobre a Inglaterra nas oitavas, a grande vitória da Eslováquia contra a Itália, resultado que eliminou a “Azurra” ainda na primeira fase, entre outros. Mas nessa fase, os jogos ganham em dramaticidade. Quem consegue chegar entre os oito, quer dar um passo mais longo. Uruguai, Gana e Paraguai sonham em disputar, no mínimo, o terceiro lugar, o que já seria um grande feito. Brasil, Argentina e Alemanha são potências mundiais no futebol e querem mais um título da Copa, enquanto que Holanda e Espanha são potências europeias e precisam vencer o Mundial para mudarem de patamar. Por isso, independentemente das seleções que estejam envolvidas, os jogos dessa fase são um grande atrativo.

Em 2006, nessa mesma fase, estavam duas seleções médias da Europa: Ucrânia e Portugal. Nessas seleções havia jogadores que chamavam a atenção como Shevchenko e Figo. Inglaterra, Brasil, França, Itália, Alemanha e Argentina completaram a lista das oito equipes que chegaram a essa fase naquela competição. Ou seja, seis gigantes do futebol mundial. Estou citando isso, pois já ouvi de muitas pessoas que esses confrontos de “zebras” não são interessantes, como ocorre entre Gana e Uruguai, por exemplo. Como a Copa é disputada de quatro em quatro anos, gostaríamos de ver Brasil x Inglaterra, França x Argentina, Alemanha x Itália, entre outros. Mas é extremamente necessário para o esporte (não só para o futebol) que apareçam as novidades, que a geografia mude um pouco. Já houve época em que Uruguai, Iugoslávia, Tchecoslováquia, URSS, Hungria e Áustria eram potências. Aos poucos, essas seleções foram esquecidas. Por isso, quando vejo que a Hungria formou uma boa seleção de base, logo me animo e sonho em ver o time voltando a fazer bonito em Copas. Claro que é quase impossível formar uma geração como a de 1954, mas ver os húngaros entre os oito melhores de uma Copa já seria muito legal. Essa é a sensação que eu tenho com o Uruguai. Se a celeste for eliminada amanhã por Gana, eu já ficaria satisfeito em ver um time desacreditado fazer uma campanha tão boa, quem sabe terminando na quinta ou sexta colocação. Se chegar às semifinais, mesmo que seja derrotada por Holanda ou Brasil, essa seleção estará na história, afinal são quarenta anos sem sentir o gostinho de disputar uma vaga na decisão de uma Copa. O legal do futebol não é só o presente, mas também o passado. A Eslováquia e a República Tcheca, quando entram em campo, carregam o legado da Tchecoslováquia. A Croácia e a Sérvia são herdeiras da Iugoslávia, assim como Ucrânia e Rússia são da URSS.

Enfim, depois de falar da tradição, quero encerrar com as novidades. Elas são essenciais, isso é fato. Somente com coisas novas que aprendemos a refletir sobre nossos valores. Coréia do Sul e Japão não estão mais na geografia do futebol como saco de pancadas, dependendo do grupo que entram são consideras até como candidatas a uma das vagas. A mesma coisa se pode dizer dos EUA e do México, que estão numa crescente. Na África, ainda não vi uma seleção conseguir estabilidade. Nigéria e Camarões ameaçaram, mas em 2010 provaram que a ausência da Copa de 2006 era apenas o reflexo da situação dessas equipes. Gana e Costa do Marfim só apareceram agora e até que podem se firmar. Acredito mais em Gana, até pelo retrospecto positivo em mundiais das categorias de base. Talvez esteja surgindo mais uma potência, para se juntar aos cachorros grandes. Claro que essa ideia será refutada por muito leitores que me acompanham. Mas Gana já conseguiu um feito ao chegar às oitavas da Copa de 2006 e às quartas da Copa de 2010, quem sabe podendo ir mais longe e se tornar a primeira seleção africana em uma semifinal de Copa do Mundo. A Nigéria, na década de 90, até que conseguiu passar de fase por duas vezes, em 1994 e 1998, mas sempre caiu no primeiro jogo do mata mata. Enfim, pelo nosso egoísmo queremos sempre grandes clássicos nas quartas de final, nas semifinais... Mas a Copa também serve para trazer novidades, mudar a história de uma seleção. A tendência, inclusive, é que esse fenômeno se torne ainda maior nos próximos anos, afinal o intercâmbio faz com que os jogadores de seleções menos badaladas ganhem experiência e neutralizem os “craques”. Essa é a realidade e nem por isso a Copa deixará de ter Brasil x Holanda, Argentina x Alemanha, Inglaterra x Alemanha ou Argentina x Espanha. Mas Uruguai x Gana também será um jogo para os almanaques, independente do que acontecer em campo.

Fala Zakumi!


Holanda x Brasil
Em Copas, a laranja mecânica encontrou a seleção verde-amarelo em três oportunidades, todas decisivas. Pelos números, uma vitória para cada lado e um empate. O problema é que esse “empate” levou o jogo para os pênaltis, vencido pelo Brasil, na semifinal da Copa de 1998. Por isso, os sul-americanos levam a melhor no retrospecto, já que eliminaram os holandeses em duas oportunidades. Em 1974, na Alemanha, a Holanda levou a melhor e, ao vencer o Brasil, se classificou para a final da competição. Ou seja, Brasil e Holanda, quando se enfrentam em Copas, o vencedor sempre vai para a final. Como pegam quem passar de Uruguai e Gana, as chances de isso acontecer em 2010 são muito grandes. Confira todos os encontros:

16.07.1952 Brasil 5x1 Holanda (Jogos Olímpicos)
02.05.1963 Holanda 1x0 Brasil (amistoso)
03.07.1974 Holanda 2x0 Brasil (Copa do Mundo)
19.12.1989 Holanda 0x1 Brasil (amistoso)
09.07.1994 Brasil 3x2 Holanda (Copa do Mundo)
30.08.1996 Holanda 2x2 Brasil (amistoso)
07.07.1998 Brasil 1x1 Holanda (Copa do Mundo) O Brasil passou nos pênaltis.
04.06.1999 Brasil 2x2 Holanda (amistoso)
07.06.1999 Brasil 3x1 Holanda (amistoso)
08.10.1999 Holanda 2x2 Brasil (amistoso)