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Grécia

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Seleção grega, campeã da Europa em 2004. Em pé: Traianos Dellas, Charisteas, Fyssas, Katsouranis, Kapsis e Nikopolidis. Agachados: Vyrzas, Seitaridis, Basinas, Zagorakis e Karagounis.
Theodoros Zagorakis levanta o troféu de campeão da Eurocopa de 2004. Uma campanha épica, para uma seleção sem tradição no futebol europeu.
O escolhido dos deuses! Otto Rehhagel conquistou um título que seleções tradicionais como Inglaterra e Iugoslávia nunca conquistaram.

Falar de Grécia sem fazer um paralelo com a fantástica mitologia grega é como falar de Brasil sem citar Pelé e Garrincha. Se o ponto forte da seleção canarinho está em seus craques do passado e do presente, o grande mérito da seleção grega está justamente no homérico (épico, fabuloso, lendário). Homero, certamente, se deslumbraria com a conquista da Eurocopa de 2004. A Ilíada e a Odisséia, que tanto aproximam os deuses dos homens, teria um capítulo a parte. Hoje vou me inspirar na Grécia Antiga para tentar mostrar a verdadeira dimensão daquela guerra em Portugal, terra de Camões.
Os Jogos Olímpicos surgiram na Grécia Antiga, mais precisamente no Santuário de Olímpia, construído em homenagem aos deuses da mitologia grega. O nome é inspirado no Monte Olimpo, que fica na região da Tessália e onde vivem os deuses. São doze os deuses olímpicos, que ficam em um imenso palácio, usufruindo do canto das Musas e da lira de Apolo. Zeus, deus dos deuses, é o dominador dos ceús, responsável por tudo o que acontece no planeta. Após mais um insucesso na tentativa de disputar a Copa do Mundo, Zeus decidiu que um homem seria responsável por uma mudança radical na história da seleção grega de futebol. Zeus, então, atribuiu ao alemão Otto Rehhagel a tarefa de colocar a discreta seleção grega (quase imperceptível aos olhos dos gigantes) entre as mais importantes do mundo da bola. Camões e Homero, em algum lugar, se juntaram para descrever o que representou 2004 na história de Portugal e Grécia, como seleções de futebol. Os patrícios, como eu já disse nesse blog, sediaram a competição e foram comandados por Felipão, campeão do mundo em 2002 com a seleção brasileira. Camões, inquieto, sabia que aquele era o momento perfeito para que Portugal vencesse a guerra. Por outro lado, Homero blefava, dizendo que os gregos viajaram desacreditados para a Península Ibérica. A batalha começou nas eliminatórias, quando os helênicos perderam seus dois primeiros jogos. Depois disso, porém, foram seis partidas e seis vitórias, sendo uma delas contra a poderosa Espanha, no campo de batalha do adversário. A tática do alemão era simples e prática: um forte esquema defensivo e contra-ataques rápidos e mortais. Mesmo assim, os adversários desprezaram os gregos no início da Uefa Euro. Portugueses, espanhóis e russos eram os mais cotados do grupo. Mas a guerra só estava começando!

A Grécia segura um empate de 0x0 com a Alemanha Ocidental na Eurocopa de 1980. Além dos germânicos, os gregos ainda enfrentaram a Holanda e a Tchecoslováquia na primeira fase. A Grécia não sobreviveu em um grupo da morte pra ninguém botar defeito!
Kalitsakis bem que tentou salvar, mas não deu. Batistuta marcou três gols e Maradona completou a goleada de 4x0 da Argentina pra cima dos gregos na Copa do Mundo de 1994. A equipe ainda levaria outro 6 gols nesse Mundial. Um fiasco que entrou para a história!
Dellas marca o gol da vitória contra a República Tcheca, na prorrogação. A utopia virou realidade e a Grécia estava na grande decisão da Eurocopa. As surpresas não pararam por aí, já que os helênicos derrotaram os anfitriões portugueses na decisão.
Foi sofrido, mas a Grécia volta a disputar uma Copa do Mundo depois do fiasco de 1994. Após campanha irregular em grupo teoricamente fácil com Suíça e Israel, os gregos precisaram enfrentar a Ucrânia na repescagem. Para aumentar o heroísmo da classificação, os gregos venceram os ucranianos fora de casa, com gol de Salpingidis. No destaque, os jogadores comemoram a classificação.

Portugal recebeu 15 seleções para a disputa da Eurocopa. “Eternos moradores do Luzente/ Estelífero polo, e claro assento,/ Se do grande valor da forte gente/ De Luso não perdeis o pensamento/ Deveis de ter sabido claramente/ Como é dos fados grandes certo intento/ Que por ela se esqueçam os humanos/ De assírios, persas, gregos e romanos”. Camões dava seu recado ao povo português que, graças ao comando de Felipão, estava confiante no título. Em 2004, os deuses do Olimpo estavam satisfeitos com a homenagem de sediar os Jogos Olímpicos de Verão. Por essa razão, a festa era grande no palácio e Atena (que daria seu nome a cidade sede daquela competição) resolveu premiar os gregos com o título europeu. Antes de 2004, a Grécia só havia participado de uma Eurocopa em 1980 e uma Copa do Mundo em 1994. Ambas as campanhas foram decepcionantes! Em 1994, por exemplo, foram três jogos e três derrotas com nenhum gol marcado e dez gols sofridos, com a campanha sendo considerada uma das piores da história de uma seleção europeia em competições realizadas pela FIFA. Alketas Panagoulias, primeiro responsável pela missão de elevar o futebol grego a outro patamar, falhou nas horas decesivas. O treinador dirigiu a Grécia entre 1973 e 1981, conseguindo o feito de colocar a equipe na Eurocopa de 1980, deixando adversários como URSS e Hungria para trás nas eliminatórias. Porém, na Eurocopa, a equipe foi um fiasco com um empate e duas derrotas, em complicado grupo com Holanda, Alemanha Ocidental e Tchecoslováquia. Anastopoulos, maior artilheiro da seleção grega de todos os tempos, foi o autor do único gol grego naquela competição. O tempo passou e em 1992 Panagoulias teve uma nova chance no comando da seleção grega. Zeus, outra vez, disse ao técnico que o ajudaria nas eliminatórias, mas que ele precisaria do apoio de Atena (deusa da guerra justa e da inteligência) para fazer uma boa campanha na Copa do Mundo dos EUA. Atena, porém, não estava disposta a usar seu elmo, sua armadura e seu escudo. Ela somente faria isso no ano que “Atenas” sediasse os Jogos Olímpicos pela segunda vez. Em 1896, a cidade foi sede das primeiras Olímpiadas da era moderna e com o apoio dos deuses do Olimpo, a Grécia foi o país que conseguiu o maior número de medalhas (46 ao todo). Atena, dessa vez, resolveu premiar o futebol.
Dia 12.06.2004 começou a guerra pelo título! Para Homero, a primeira batalha era sublime, tão poética quanto a guerra entre gregos e troianos. Nikopolodis, Seitaridis, Kapsis, Dellas e Fyssas eram os responsáveis pela defesa grega. Zagorakis e Basinas eram os comandantes do meio de campo, ao lado de Katsouranis, Giannakapoulos e Karagounis. Charisteas era o homem da artilharia. Em casa, Portugal era unanimidade. O jogo, sem exageros, era considerado como um confronto de Davi contra Golias. Apoiado por Atena, Otto Rehhagel armou muito bem o time e com gols de Karagounis e Basinas, a seleção grega abriu 2x0, diante de mais de 48.000 espectadores no estádio do Dragão. Cristiano Ronaldo ainda descontou para Portugal, mas a vitória foi mesmo do “navio pirata”, apelido dado a seleção grega após a primeira partida. Um reencontro com a Espanha e, mais uma vez, a Grécia pregou uma peça no adversário. Fernando Morientes abriu o placar no primeiro tempo, mas Charisteas empatou na segunda etapa. Diante da fanática torcida espanhola, que compareceu em peso, a Grécia conseguiu um empate que teria graves consequências para a “fúria” na Eurocopa. Pois é! Na rodada seguinte, Espanha e Portugal se matariam por uma vaga e a Grécia, mesmo que perdesse para a já eliminada seleção russa, se classificaria. Os portugueses derrotaram os espanhóis e seguiram em frente, aguardando um possível reecontro com a Grécia. Os helênicos perderam na hora certa, foi quase que calculado para ficarem em segundo lugar do grupo e fugirem de um possível oba-oba. Bom, nas quartas de final, o confronto era contra uma das melhores seleções do mundo: a França. Desde 1998 que os “bleus” conquistavam grandes títulos, como Copa do Mundo, Copa das Confederações e Eurocopa. Enquanto Camões se emocionava com a brilhante vitória de Portugal contra a Inglaterra, Homero discursava sobre como os deuses do Olimpo ajudaram os gregos diante dos franceses. Após cruzamento de Zagorakis, Charisteas subiu e mandou de cabeça para as redes. Aos 19 minutos do segundo tempo, a Grécia fez 1x0! A França tentou o empate a todo custo, mas não conseguiu. O “calcanhar de Aquiles” dos bleus foi descoberto pelo estrategista Otto Rehhagel e a limitada seleção grega já entrava para a história por chegar na semifinal da Uefa Euro.
Na época, a imprensa esportiva considerou a Grécia como um cavalo paraguaio do início ao fim. Nem as vitórias contra Portugal e França foram capazes de mudar a opinião dos especialistas, que preferiam acreditar que a retranca fosse vencida por uma futebol mais vistoso. Na terra de grandes filósofos, como Platão e Aristóteles, tudo pode ser relativo. Afinal quem garante que um futebol defensivo é feio? Tudo é questão de ponto de vista, certo? Para muitos brasileiros, a seleção brasileira tem sempre que jogar bonito, como em 1982. Mas do que adianta jogar bonito e perder a Copa? Será que o Brasil, campeão do mundo em 1994 com um futebol previsível, não merece mais destaque do que outros times que jogaram para frente e não venceram? Para mim, tudo é válido. A Hungria de 1954 e a Holanda de 1974 entraram para a história como seleções fantásticas, mas que perderam a Copa. A Alemanha, por outro lado, está sempre conquistando títulos, mesmo com um futebol feio. A Grécia, se tentasse jogar para frente em 2004, provavelmente teria ficado na primeira fase com derrotas catastróficas, como em 1994. Por isso, a opção por um treinador alemão, chegando de um lugar onde os times jogam feio, muitas vezes reconhecendo a superioridade dos adversários, mas quase sempre conseguindo resultados incríveis. A Alemanha venceu a Hungria de Puskas, a Holanda de Cruyff e a Argentina de Maradona em finais de Copa do Mundo. Filosofias a parte, Homero ficou muito feliz, quando a Grécia venceu a República Tcheca de Nedved, uma das seleções mais fortes do mundo em 2004. O gol de Traianos Dellas só saiu na prorrogação! Para Aristóteles, a lógica não existia mais. Sócrates, se viu o jogo, concluiu: “só sei que nada sei!” Na Final, todas as teorias e mitologias em jogo. A batalha final entre Portugal (que mandou a Holanda para casa) e a Grécia parecia previsível, com vitória dos portugueses. “Conhece-te a ti mesmo!” Otto Rehhagel conhecia a Grécia e sabia que o raio poderia cair duas vezes no mesmo lugar. Sabia também que tudo já estava escrito e que os deuses do Olimpo decidiram que a Grécia venceria Portugal. Homero e Camões, de olho no estádio da Luz em Lisboa, tinham certeza que o duelo seria épico. E foi! Milhares de portugueses compareceram ao campo de batalha, acreditando que os comandados de Felipão conquistariam a Eurocopa pela primeira vez. Os gregos, como sempre, eram rejeitados, dados como penetras no meio da festa lusitana. Mas eis que surge o “Cavalo de Tróia”, chamado aqui de “Cavalo de Lisboa”, com os helênicos entrando em campo como se fossem apenas figurantes da partida final. Um presente de grego! Talvez os patrícios fizessem três ou quatro gols, afinal o “Cavalo de Lisboa” estava lá, tão bonito e tão inofensivo. Foi fácil trazê-lo para dentro da arena e contemplá-lo como um troféu. Eles já estavam batidos, foram ali apenas para ver a festa de Portugal e assitir ao comandante Felipão comemorar com o povo e sua tropa. Assim pensavam alguns portugueses! Então veio a surpresa! De dentro do cavalo (com uniforme branco e azul) saem onze guerreiros e um comandante. Os portugueses se assustam com a resistência imposta pelo grande adversário, que pretende dar fim a guerra da Uefa Euro. Um confronto tático incrível! Uma guerra de nervos em busca de mares nunca antes navegados! O título era a descoberta de um novo mundo para o campeão. Por isso, com unhas e dentes, as seleções brigaram pelo troféu. Depois de muito se defender com os escudos da deusa Atena, a seleção grega se arriscou no ataque. Basinas, então, cruzou e Charisteas completou de cabeça para as redes. 12 minutos do segundo tempo e a Grécia abria o placar. Os portugueses, mesmo feridos, partiram para cima. Os deuses do Olimpo fizeram os zagueiros helênicos se tornarem verdadeiros gigantes, capazes de parar craques como Figo e Cristiano Ronaldo. Homero narra tudo com uma ênfase brilhante, enaltecendo a garra dos guerreiros gregos. Camões está indignado com a tática dos gregos, que sempre se disfarçaram de simpáticos e inofensivos, mas não passam de estrategistas frios. A tática deu certo e o juíz alemão Markus Merk apitou o fim. A Grécia é campeã da Eurocopa! Assim como os troianos, que comemoraram a vitória ao receber o presente dos gregos, os portugueses também o fizeram. Depois disso, Otto Rehhagel foi abençoado por Atena e permanece no comando da Grécia até os dias atuais. A olimpíada foi um sucesso, diga-se de passagem! Os deuses, recentemente, se reuniram e a Grécia chegou com dificuldades para a disputa da Copa do Mundo de 2010, ao eliminar a Ucrânia na repescagem. Homero ainda não adormeceu e espera ansioso para narrar mais um capítulo da Ilíada e Odisséia. Os deuses do Olimpo discutem sobre o futuro da Grécia na Copa do Mundo. No dia 12.06, encontro com os sul-coreanos, na primeira batalha. A filosofia é a mesma da Eurocopa de 2004 (que deu tudo certo) e da Eurocopa de 2008 (que deu tudo errado). Como diria Sócrates: “Sob a direção de um forte general, nunca haverá soldados fracos.”

1 comentários:

Daniel Silva 8 de abril de 2010 às 17:39  

só tem pereba nessa seleção. o charisteas deu sorte, não tem nem 100 gols na carreira, mesmo com seus quase 30 anos.

abraço!

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